terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Saudades (do que não tive)

Saudades (do que não tive)
Nostalgie (de ce que je n’ai pas eu)

Rosas mudas visitam-me os jardins,
Parcas, insolentes, mas em essência, inocentes.
E na calada, já lhes preparava um breve desfecho,
Como quem cuida relapso de solo infértil, à beira do perecer.

Des roses muettes visitent mes jardins,
Rares, insolentes, mais essentiellement innocentes.
Et en secret, je les préparais déjà un bref dénouement,
Comme quelqu’un qui, insouciant, prend soin d’un sol infertile, au point de périr.


Desgarrei-me das incertezas moribundas,
Ao custo de uma vida de tropeços enfermos.
Abandonando-me como um desertor insolente,
Disse o que fiz e o que não queria ter em meus votos,
Catarse da essência, imunda de medos, enganos, de erros.

Je me suis égaré des incertitudes moribondes,
Aux dépens d’une vie de malades faux pas.
Je m’abandonne comme un déserteur insolent,
Je dis ce que j’ai fait et ce que je ne voulais pas avoir entre mes vœux,
Catharsis de l’essence, immonde de peur, de tromperies, d’erreurs.


Contraponho-me ao passado como um sonho bom,
Daqueles de infância materializada a céu aberto,
Mas que enfim, dentro de mim, carrega a dor do partir.

Je m’oppose au passé comme un beau rêve,
De ceux de l’enfance matérialisée à ciel ouvert,
Mais que, en fin de compte, dans moi, porte la douleur du départ.


Dor do reinício, do início que nunca tive,
Das palavras que nunca te disse nem em Dó ou mesmo Sol Maior,
Só pra te matar doida, doída de saudades.

Douleur de la relance, du commencement que je n’ai jamais eu,
Des mots que je ne t’ai jamais dits, ni en Do, ni même en Sol majeur,
Juste pour te tuer, folle, en douleur, à cause de cette nostalgie.


Ah, saudades!
Saudades não têm temor, desamor e nem idade,
Mas, então, me diz, como é que pode,
Do Nada-Ser se ter Saudades?
Saudades... (do que não tive)

Ah, la nostalgie!
La nostalgie n’a pas de crainte, pas de désilusion, pas d’âge.
Dis-moi, donc, comment est-il possible
Du « ne pas être », en voir nostalgie ?
Nostalgie... (de ce que je n’ai pas eu)


*Catarse, depois de 1/4 de século de sabe-se-lá-o-quê. Mas, enfim, que não haja mais espaço para arrependimentos. Porque a vida não para...

*Catharsis, après un quart de siècle de je ne sais pas quoi. Mais, enfin, qu’il n’y ait plus de place pour le repentir. Puisque la vie ne s’arrête pas...

Traduzido, versionado e sentido para o francês por Patrícia Nascimento.

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Epifania

2 - Entrega



A vida morna, janelas abertas. O passado e o indagora reúnem-se na alegria, discutem suas alegorias. Sempre quis desse jeito, acabar com os próprios mistérios. Viver em uníssono com minhas repartiçõies-mil e verdades mirabolantes.

E olhei o ontem e disse, "pode entrar, porque aprendi a te gostar, do jeito que és...". As mãos se tocam, desenham um novo rosto, que ainda há de vir. E que será repleto de sorrisos, lágrimas, felicidades e dúvidas - porque conduzir sem medo é assim, meu bem.

Não posso "ser" nada se já não "fui". As sinas, o agora, selam minha caixa de pandora. Meu, teu, nosso (EU).

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Epifania

1 – Desdobramentos




Do que consome a alma, refaço a essência. Acho que gosto de saber que não sinto mais nada. Do transtorno, da dor que reparte e queima aquilo que não me pertence, mas me povoa.

Quanto eu teria a te dizer, naquele encontro, no reencontro das nossas certezas. E era lá, frente a frente. Tuas sinuosidades, todo o ser oblíquo que és. Sei que estou errado, mas te venero, púrpura, intensa, taquicárdica.

E te sonhei todo esse tempo, numa loucura inexplicável. Sei que tu és assim, porque ainda te tenho. Ainda te quero. Quem é que se importa?

Do que consome a alma, refaço a essência. Da essência, te refaço louca, doida de saudades.