quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Inimizades Indiscretas

E estamos frente a frente com mais um término de ano. Ou temporada, para quem acha que a vida não passa de uma mera e estúpida série televisiva.
Como toda boa série de TV, tudo tem seu devido lugar. Conforme nosso ano solar vai chegando ao fim, os seriados seguem religiosamente a regra, expondo toda sua graça com episódios de Natal, confraternização e é claro, o Ano Novo.

Se a vida é um arremedo da série ou vice-versa, vai da consciência de como cada indivíduo interpreta seu próprio script. De qualquer forma, uma copia a outra e a outra copia a uma. E como todo belo e farto fim de temporada, não poderia faltar o “Amigo Secreto”.

“Amigo Secreto”, como se auto-define o vocábulo, é a arte de ser surpreendido por um amigo não identificado, à priori, que se revela então com um presente, um afago, boas palavras. Não serei hipócrita, então digo que se a idéia fosse realmente baseada no cunho vernáculo da expressão, nossa, que maravilha!

Todavia, a prática nos aparece obscurecida por toda a propriedade que o ser humano tem de ser mesquinho e autocorrupto.
Comecemos pelos limites impostos. Amigo que é amigo presenteia com aquilo que lhe parece adequado e melhor representa o que sente pela pessoa, pela amizade. Se isso se aplicasse, indiferente seria estipular valores. Às vezes algo pequeno e singelo revela as mais práticas e puras intenções. Mas, não. Bota-se já uma cancela no seu limite de felicidade. De tantos R$ até no máximo de R$. Pronto. Este é o valor da sua amizade. Tabelado, como distribuir cotas de seus bens a parentes indesejados.

Como a festa deve continuar, vejamos agora o sorteio. Juro que é engraçado ver as expressões das pessoas ao tirarem seus minúsculos papéis - dobrados com todo o cuidado para que não se revelem os nomes – da “urna da sorte”. Por tantas vezes fica tão clara a reação, que o mais ortodoxo seria largar mão logo neste instante. Peraí! Não é amigo secreto, meu amigo? Por que essa indigestão toda ao ler o nome de João, Francisco ou Maria?

Mais incabível ainda é a inserção daqueles integrantes indesejados ao certame. É, aquela pessoa que ninguém vai com a cara, mas você a comunica por educação. Ninguém quer que ela participe, ninguém quer tirá-la, porém todos sabem que se o convite for feito, ela está dentro. Daí, surgem o rebuliço e as propinas. “Ô Jonas, se eu “tirar” a Gertrudes você troca de amigo comigo? Sabe comé, não me dou muito com a moça não...”. “Zézinho, pelo amor de Deus! Eu tirei o Joca! Não tem como fazermos uma troca amigável de papéis?! Ah, vai! Sei que tu conversa com ele quando param pra tomar um cafezinho!”.

Cá estamos. O amigo-secreto agora é um estiloso jogo de artimanha, mais parecido com uma batalha naval, ou uma partida de War. Deve-se neutralizar o inimigo! Reúna suas tropas, mobilize seus compatriotas!

Para isso, alguém muito sincero e sábio já havia determinado outro termo: Inimigo Secreto.

terça-feira, 18 de novembro de 2008

Reuniões: o antepasto da falta do que fazer

Outro dia recebi um e-mail meio batido. Não que seja batido, mas é daqueles e-mails sazonais, que vêm em avalanches. Todo mundo recebe mais ou menos na mesma época. Não se sabe nem a autoria, pois o escritor incógnito faz questão de deixar tudo às margens da impessoalidade. O texto vira até assunto com pessoas de fora de seu núcleo social diário: “Ah, você recebeu aquele e-mail? É, aquele com as fotos de não sei o quê! E aquele outro do escritor fulano de tal, sobre a vida em empresas?!”.

Passada a “epidemia” eletrônica, o texto digital hiberna em berço esplêndido em sua caixa de entrada, como se estivesse aguardando por nova tendência ou oportunidade de re-circular - requentado, é fato - mas com aquele ar contemporâneo.

Enfim, na retomada de um desses textos, contendo filosofia cotidiana, notei que um dos itens me chamou atenção. Ele dizia “Se você tivesse que identificar, em uma palavra, a razão pela qual a raça humana ainda não atingiu (e nunca atingirá) todo o seu potencial, essa palavra seria 'reuniões'”.
Quando terminei de ler, a primeira reação foi dar risada, é claro. Sempre me divertido com a capacidade que algumas pessoas têm de captar essas situações cotidianas e notar como elas são banais no balanço geral da situação.

Contudo, não vou negar que analisando com mais cautela algum tempo depois, percebi que há um fundo psicológico fortíssimo por trás dessa interpretação. Além do fato de ter participado de mais uma reunião e ver com meus próprios olhos tal ilustração encarnada.

Penso que reunião faz jus ao nome que leva: é uma reunião, sim, de carências e consensos distorcidos, na maioria das vezes lotados de subjetivismos que atordoam a razão e a tomada de decisões. Que fique claro: quem, em absoluta consciência, conseguiu resolver um assunto inteiro com apenas uma reunião? Outro ponto, quem é capaz de realmente fazer o que foi proposto na ata?

Não vou desandar unicamente o assunto para questões de trabalho. Digo isso porque mais da metade das reuniões das quais participei este ano foram com amigos, resolvendo problemas de nossas empreitadas musicais. E notei que há esse tom disléxico em quase todo o percurso da conversa. Não há foco direto. Não se vai diretamente ao escopo e “mata-se” o assunto. Dado momento, o que temos é uma troca de assuntos carregados de “Eu acho”, “Eu não penso assim”, “Eu espero”. Onde está o coletivo, o organismo do ideal da reunião? Isso quando não se foge do assunto central por completo – aí o que temos é uma discussão infrutífera de amenidades das mais diversas.

Se o processo deve envolver o coletivo, onde fica a idéia e conclusão global? Pouco se houve o outro. Atropelamos idéias, contrapontos e tudo o mais que possa desequilibrar o interesse central. Mas oras, se há um interesse central pré-definido e praticamente imutável, não é reunião. É Comunicado, Aviso, Advertência. Não reunião.

A palavra já sofreu deformações das mais variadas com o passar do tempo. No geral, nossas palavras e atos já não correspondem mais à realidade. Não há coerência entre discurso e a ação. O homem moderno é assim, cheio de aspirações reprimidas.

Ao final das conversações, a conclusão de que não se aprendeu nada e não se chegou a lugar algum bate à sua porta. O que, então, fazer?

Pausa para o café...

Reuniões: o antepasto da falta do que fazer

Outro dia recebi um e-mail meio batido. Não que seja batido, mas é daqueles e-mails sazonais, que vêm em avalanches. Todo mundo recebe mais ou menos na mesma época. Não se sabe nem a autoria, pois o escritor incógnito faz questão de deixar tudo às margens da impessoalidade. O texto vira até assunto com pessoas de fora de seu núcleo social diário: “Ah, você recebeu aquele e-mail? É, aquele com as fotos de não sei o quê! E aquele outro do escritor fulano de tal, sobre a vida em empresas?!”.

Passada a “epidemia” eletrônica, o texto digital hiberna em berço esplêndido em sua caixa de entrada, como se estivesse aguardando por nova tendência ou oportunidade de re-circular - requentado, é fato - mas com aquele ar contemporâneo.

Enfim, na retomada de um desses textos, contendo filosofia cotidiana, notei que um dos itens me chamou atenção. Ele dizia “Se você tivesse que identificar, em uma palavra, a razão pela qual a raça humana ainda não atingiu (e nunca atingirá) todo o seu potencial, essa palavra seria 'reuniões'”.
Quando terminei de ler, a primeira reação foi dar risada, é claro. Sempre me divertido com a capacidade que algumas pessoas têm de captar essas situações cotidianas e notar como elas são banais no balanço geral da situação.

Contudo, não vou negar que analisando com mais cautela algum tempo depois, percebi que há um fundo psicológico fortíssimo por trás dessa interpretação. Além do fato de ter participado de mais uma reunião e ver com meus próprios olhos tal ilustração encarnada.

Penso que reunião faz jus ao nome que leva: é uma reunião, sim, de carências e consensos distorcidos, na maioria das vezes lotados de subjetivismos que atordoam a razão e a tomada de decisões. Que fique claro: quem, em absoluta consciência, conseguiu resolver um assunto inteiro com apenas uma reunião? Outro ponto, quem é capaz de realmente fazer o que foi proposto na ata?

Não vou desandar unicamente o assunto para questões de trabalho. Digo isso porque mais da metade das reuniões das quais participei este ano foram com amigos, resolvendo problemas de nossas empreitadas musicais. E notei que há esse tom disléxico em quase todo o percurso da conversa. Não há foco direto. Não se vai diretamente ao escopo e “mata-se” o assunto. Dado momento, o que temos é uma troca de assuntos carregados de “Eu acho”, “Eu não penso assim”, “Eu espero”. Onde está o coletivo, o organismo do ideal da reunião? Isso quando não se foge do assunto central por completo – aí o que temos é uma discussão infrutífera de amenidades das mais diversas.

Se o processo deve envolver o coletivo, onde fica a idéia e conclusão global? Pouco se houve o outro. Atropelamos idéias, contrapontos e tudo o mais que possa desequilibrar o interesse central. Mas oras, se há um interesse central pré-definido e praticamente imutável, não é reunião. É Comunicado, Aviso, Advertência. Não reunião.

A palavra já sofreu deformações das mais variadas com o passar do tempo. No geral, nossas palavras e atos já não correspondem mais à realidade. Não há coerência entre discurso e a ação. O homem moderno é assim, cheio de aspirações reprimidas.

Ao final das conversações, a conclusão de que não se aprendeu nada e não se chegou a lugar algum bate à sua porta. O que, então, fazer?

Pausa para o café...

sexta-feira, 14 de novembro de 2008

A Doce Arte de se fazer Inimigos

Há quem se incomode com gente feliz. Isso mesmo, pessoas que não gostam de indivíduos que verbalizam a alegria que jorra de seus espíritos. Como explicar algo assim?

A alegria, de fato, é uma condição para nós neste planeta. De uma forma ou de outra, fica claro por muitas vezes que temos que batalhar para que ela deixe de ser uma condição febril para se tornar uma realidade - ou ainda para os menos comprometidos, uma condição mais constante.

A grande dificuldade das coisas reside no fato de que terceirizamos a felicidade: serei feliz se tiver aquele carro! Não, serei feliz se tiver aquele carro e aquela(e) mulher/homem! Não, não tem como ser feliz com um carro, uma companhia se não se ganhar muito dinheiro!
E assim, criamos vínculos infinitos com o nada. Coisa mais fácil nessa vida é arranjar dependências para que aí sim, possamos encontrar a felicidade.

A felicidade, então, torna-se adiável. Virá depois do depois de amanhã, depois que você viajar ao lado daquela pessoa, dentro daquele carro, praquele lugar, naquela casa, com um tanto de dinheiro. Até que essa equação vire um anátema e tudo isso não faça o menor sentido.

Pois então, num belo dia, esse ser infeliz encontra à sua frente alguém que não tem muita coisa do que se “vangloriar”. Tem um carro popular, comprado em suaves-longas prestações, vive com contas pra pagar até o dia de receber o salário, se enrola inteiro pra conseguir fazer uma compra em mil vezes – com muitos juros – e viajar então, nem se fala. Quem sabe fora de temporada, mas o ideal é que a convidem, porque aí sobra algum dinheiro. Mas aí então a pessoa é feliz. Sim! Ela sorri, não reclama, ajuda às outras pessoas, não mede esforços e pior, tem certeza que a vida dela é muito boa e que, tirando um ou outro detalhe, não mudaria nada para que ela fosse melhor.

O ser infeliz, ao invés de rever seus conceitos e entender como as coisas da vida podem ser ambiguamente relativas, passa a detestar pessoas felizes. Pessoas felizes são chatas demais! Sorrir é uma chaga, se contentar com o que tem, um pecado. E isso se propaga. Pessoas assim se multiplicam, ao contrário de pessoas bem resolvidas, que parece que temos de menos à nossa volta. E assim criamos o tempo todo “inimigos invisíveis”. Inimigos de nossa realidade cinza e moribunda.

Quanto tempo nós temos para acordar e saber onde estamos? O que realmente é importante para que possamos seguir em frente? Aprender com os erros ainda é o melhor caminho, por mais longo que seja.

terça-feira, 11 de novembro de 2008

Reflexos Condicionados

Outro dia, conversava com um bom amigo. Acredito que realizamos um devaneio de idéias sortidas. Basicamente, não impusemos critério algum nos temas que se sucediam. O intuito era fazer as idéias fluírem com imensa naturalidade. E é claro, o que seguiu não teve desfecho com menos de 3 horas de conversa, envolvendo tudo aquilo que se possa imaginar.

Num dos tópicos, colocamos em questão nossos reflexos condicionados, nossas reações frente às pessoas e as situações do nosso cotidiano.

- Eu acho que o serviço de telemarketing nos moldes atuais deveria ser banido! Quanta automatização e alienação! – comentou Josa.

Tive que concordar com certo ar de tristeza. É difícil imaginar que haja “treinamentos” mecanizados para que pessoas saibam – ou não – como lidar com pessoas. Chega a ser até uma auto-paródia, com alicerces meio frouxos na demagogia de que alguém possa ter encontrado o método mais adequado de se lidar com todo e qualquer tipo de pessoa de uma forma padronizada. Uma receita mágica, para conversar e relacionar-se com qualquer um, inscrita numa manual de instruções. Desde a pessoa mais agressiva, que te espanca verbalmente do outro lado da linha, até o ser mais insosso, que diz “não” pra tudo como uma múmia paralítica, mas não vê a hora de desligar o telefone e sair correndo. Mais duro ainda é saber que reagimos assim, oscilando entre os dois sofríveis extremos.

Indo além, Josa ainda rebateu:

-
Diga-me, o que será que aconteceria se eu dissesse, “Por favor, espere um momento antes de prosseguir! Bom dia! Como é seu nome? Está tudo bem com você”, e começasse a “conversar de verdade” como uma pessoa dessas?!

Respondi, após pensar no menos óbvio:

- Creio que a pessoa se despedaçaria ali mesmo. Não teria o que dizer, afinal, esse tipo de reação não está relacionada nas de Cartilhas Mágicas de conduta do telemarketing.

Considerei a idéia do meu amigo simplesmente genial. É meio paradoxal imaginar que você desarme um(a) atendente, dispa-o(a) por completo, simplesmente conversando normalmente, como quem bate um papo informal, dentro das rédeas da educação.

Penso que esses profissionais, infelizmente, passam por diversos apuros ligando para pessoas mal-educadas, agressivas, passivas e agressivas/passivas, tendo todo tipo de resposta que amargura o ser; e então, quando alguém se dispõe a conversar como gente, sendo assertivo, simplesmente não ha reação. Não há respostas armadas contra quem dialoga, quem explica, quem QUER ouvir.

Experimentemos um “bom dia!”, uma pergunta afável, uma recusa educada. Acho que chorariam na linha ou entrariam em estado de choque profundo.
Será que é tão difícil mesmo fazer isso? Ou será que estamos alastrando essa insatisfação pessoal pela qual vivemos a todos que estão a nossa volta? O que seria do nosso mundo sem esses serviços de informação?

Comunicação: um dos grandes adventos da humanidade, que nos diferencia por completo dos demais animais, utilizada para nos encarcerar nas grades desse imenso zoológico urbano onde vivemos.

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

As Escolhas

Penso com muita freqüência em tudo aquilo que realizo. Não obrigatoriamente o que se materializa, mas em todo tipo de execução que acaba gerando um novo pensamento, uma idéia, uma concepção.

Habitualmente, do jeito que as coisas vão, creio que as escolhas são feitas por inércia. Ou o desespero do momento, como preferir.
Pouco pensamos sobre o quanto aquilo nos ocupará de tempo, qual sua implicação, qual é o impacto que essa escolha gerará no seu micro-universo.
Falando a verdade, a gente não se lembra que quase sempre – e isso daria um belo postulado – uma escolha vem acompanhada de uma renúncia. Pode até vir disfarçada, meio tímida, como quem não quer nada, sem causar impacto.

No entanto, ela deixa de ser etérea a partir do momento em que você se questiona. Questionar-se é algo muito bom, mas que machuca um pouco. E enfim quando é dado o momento do questionamento, eis que cai em cima de sua cabeça a análise real da situação. Algo que deveria ter sido pensado logo naquele início, mas como estava tão afobado e cheio daquela empolgação pueril para começar, não foi possível perceber o que uma escolha traz junto de si.

É natural escolher. Escolhemos nossas profissões, faculdades, companhias, hobbies, viagens... Mas com clareza, com que consciência é que o fazemos? É a clareza da informação, da racionalidade ou somos apenas crianças procurando satisfação e momentos fantasiosos?

A cada escolha, uma nova rota a ser seguida. Um novo espaço/tempo, uma nova interpretação, novas companhias. Renunciar também pode ser saudável, desde que esteja acompanhada dos mesmos pré-requisitos: clareza, razão e muita competência de nossos pensamentos
.

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Em direção ao Nada

Às vezes, nos esquecemos da importância de estarmos bem. O estar bem natural, mantendo nosso modus operandi biológico. Poucas vezes mesmo levamos isso consideração, como sendo algo realmente valioso.

A maior parte do tempo, reclamamos. Reclamamos porque chove muito, reclamamos porque o sol nos abafa, reclamamos do passar lento do tempo, reclamamos dos fins de semana que são rápidos demais. Por fim, reclamamos por não ter do que reclamar.
O homem moderno entrou numa necessidade entediante e até melancólica de protestar contra o nada.

Em teoria, parece ser meio confuso, mas dentro do dia-a-dia é, a mais pura realidade. O homem não aproveita seu dia-a-dia por clamar pelo fim de semana, ou até por ficar à espera de um dia que nunca chega. E enquanto aguarda ansiosamente, deixa o brilho de seus dias “ordinários” passarem desapercebidos, como se a semana na verdade fosse composta de 2 dias e um terço: o fim de sexta à noite, sábado e domingo. Se bem que no domingo à noite, 90% das pessoas ficam depressivas porque estamos próximos da segunda.

O que há de errado com a segunda? Porque não é possível chegar do trabalho na segunda-feira e sair? Assistir a um filme, conversar com os amigos? Por que não aproveitar o que uma quarta à noite tem a oferecer dentro dessa imensidão que nos cerca? Por que creditar uma aura mágica só à sexta-feira e desprezar todos os demais dias? Não é possível fazer um happy-hour numa quinta, numa terça? E assim, envelhecemos mais rápido, nos desiludimos numa velocidade louca e nos enganamos de ponta-a-ponta - segunda, terça, quarta e quinta - para vivermos uma pífia alucinação que por mais que se esprema, não dura mais que 48 horas, e um terço.

É preciso mudar, e rápido.

Logo mais, nem 12 meses teremos. Afinal de contas, nunca gostei de Outubro mesmo; não fica nem no começo e no fim do semestre direito...

terça-feira, 4 de novembro de 2008

Somos o que podemos ser ou o que queremos ser?

Mudança. Na maioria das vezes, está associada a uma dessas guinadas radicais que se dá, quase sempre sem propósito. As pessoas pensam assim, não tem jeito.

Pensando melhor, o mais sério é o que impulsiona a mudança. Pode ser um desejo sincero mesmo de alcançar outras realidades da vida ou simplesmente de sair da rotina. Como uma reforma de casa, mas daquelas bem superficiais mesmo. Pinta-se a parede rapidamente, troca-se o forro do sofá, tudo numa ânsia incontrolável de sabe-se lá o quê. Depois, com o depositar das areias do tempo, vem à tona o que deveria ter sido corrigido anteriormente: a parede tinha infiltrações e estava embolorada. A estrutura do sofá continha cupim e não demorou muito a se desfazer por completo. Será que foi reforma mesmo, uma verdadeira reestruturação dos alicerces, ou apenas um engano raciocinado?

Muito se fala sobre isso, principalmente no fim do ano “Ah, a partir do ano que vem vou mudar totalmente! Vou passar a fazer isso, aquilo, aquilo outro...”. Como se o simples passar de um dia pro outro - que é na realidade o que ocorre do dia 31 de dezembro para o primeiro dia de janeiro - fosse capaz de outorgar uma série de mudanças conscienciais num passe de mágica. Atribuíram a essa data o dom da mudança instaurada. Basta vestir-se de branco, pular sete ondas, comer um pouco disso, um pouco daquilo, lançar oferendas em alto-mar e pronto: sem mover um dedo e muito menos se auto-questionar, está tudo resolvido! Você é um novo homem, uma nova mulher! Basta pisar para fora de casa no primeiro dia do ano vindouro que todos os males de sua vida terão desaparecido.

Falta muita consciência e é claro, muito trabalho pessoal. E a cada ano, inventam coisas novas, simpatias mais modernas, evocações mais poderosas, atribuições mais ousadas. Tem-se criatividade para tudo isso. Mas, coragem para notar os próprios defeitos e combatê-los onde se dói mais, não! De jeito nenhum! Imagine, logo eu, que sou bem resolvido?

O ser humano gosta de se entorpecer e enganar a realidade: embebeda-se, droga-se, faz de tudo para sair do concreto que tanto o machuca. Para que resolver se você pode esquecer que tudo isso existe? E da melhor maneira possível, dando risada, “confraternizando”?

Isso não é mudança. E apenas mais um atalho que encontramos para nos tornarmos mais intolerantes, infelizes e consumistas de uma realidade que não é nossa.

Será que aquilo que você quer ser é reflexo da sua verdade ou é aquilo que esperam que você seja?

Enquanto penso, acho que vou ao Shopping ver se encontro uma camisa e uma cueca branca para celebrar um 2009 cheio de...roupas brancas...

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Aceitação

Da rodada, porque por um infortúnio histórico, o brasileiro, em sua essência, adora terceirizar suas responsabilidades e culpas. Não que isso não possa ser inerente a qualquer nação, contudo isso foi mostrado mais uma vez em um momento decisivo (no futebol, várias vezes).

Saber aceitar limitações e falhas é a divisão tênue entre o verdadeiro competidor, que busca dentro de si as respostas para uma evolução contínua e não no imponderável que o cerca e aquele que ainda não tem a capacidade de notar que na maioria das vezes, somos os culpados por aquilo que nos acontece.

Em meio a um esporte milionário, onde todos querem mostrar o seu valor com o fim de ascender de equipe - por sinal, atualmente restrito a apenas 2 competitivas - é impensável que alguém possa ser volúvel a ponto de ceder seu espaço infantilmente, num suborno às claras, para que alguém que nem faz parte de sua equipe ser campeão.

Já presenciamos mais de uma vez jogo de equipe, que inclusive incluiu dois pilotos "nossos" na jogada. Mas é outra história, outro tema.

A verdade é que o povo brasileiro, infelizmente, não sabe perder. Não enxerga que por trás de um resultado adverso, existe todo um histórico que explica com imensa clareza o agora e aí sim, o porquê da quetão.

Se tudo estivesse certo na Ferrari durante o ano, não teríamos 7 pontos de diferença. Poderíamos ter 2, 3 ou talvez título antecipado de Massa. Como Hamilton também já poderia vir ao Brasil como campeão absoluto. É impossível saber!

Uma coisa me alegra: a consciência de Felipe Massa, que em momento algum pareceu culpar os deuses, o asfalto ou qualquer outra "pajelança" que só quem não sabe conter sua própria vida pode se utilizar. E Glock, que apesar de toda a falta de educação e o desrespeito vindos da arquibancada, mostrou-se sóbrio e conciso em sua declaração "Eles (Mclaren) trabalharam duro o ano inteiro".Fato.

Aceitar para evoluir. A chave que abre uma porta.



sábado, 1 de novembro de 2008

Acreditar



No que acreditar?

É claro que têm momentos na vida que é difícil continuar acreditando até o fim em todos os nossos atos e investimentos pessoais.

Num microcosmos próximo daqui, Felipe Massa chega ao final do Campeonato de F1 deste ano com apenas um tiro para dar e, com este tiro, tem que tirar Hamilton de uma zona de pontuação palpável (a partir do sexto lugar é uma boa idéia) e se garantir na ponta. Só assim, com efeito, pode tirar a diferença de 7 pontos que o separa do inglês e garantir ele não possa alcança-lo mais.

Considerando a falta de mobilidade dos últimos campeonatos - largou em primeiro com carro bom e sem erros de equipe, chega-se em primeiro - e a própria situação do Grid que se definiu agora pouco, Massa chegaria em primeiro e Hamilton, o quarto. Não serve. Mesmo sem pódio, o novo prodígio planejado da F1 sagra-se campeão, corrigindo toda a afobação e destempero que o tiraram do glória quase certa em 2007.

Mas, talvez isso tudo nem seja tão importante, pois a magia está na situação: o que move o ser humano numa hora dessas?

A matemática é cruel, porque não importa o que aconteça, ela sempre será exata - para o bem da humanidade e dos aflitos professores, que a todo instante tentam convencer os mais incrédulos alunos.
E então, não poderíamos acreditar? Na verdade eu digo que acreditar é tudo. Acreditar e investir. Sem acreditar, é certo que muitas realidades que temos hoje como triviais seriam meros prospectos futurísticos sem a persistência de seus idealizadores: a ciência como um todo, todos os avanços tecnológicos e mesmos os ideais, os direitos, a liberdade de expressão...

Mas não acreditar de uma maneira cega e figurativa, como quem já separa o dinheiro da aposta perdida. Acreditar com a luta agarrada, compenetrada. É isso que os homens pouco fazem e por isso logo desistem dos intentos.

Acreditamos pouco, insistimos de menos e nos reerguemos menos ainda. Criamos obstáculos intangíveis, possibilidades remotas e credibilidade insípida no futuro. O problema não é errar, é se condenar impiedosamente depois, como se mais nada fosse possível. Como se o amanhã fosse uma consequência infértil de possibilidades, que só é possível colher o amargor de uma derrota.

Por sorte, não foi assim em 88. Senna tinha tudo para ganhar o título já no Japão. Na hora de largar, o motor apagou. Coisa que hoje em dia é motivo pra rir, com tudo sendo automático até demais. Foi parar nas últimas posições. Caçou um por um de seus adversários; o trabalho da equipe nos boxes foi espectacular. Ultrapassar Prost era uma utopia, até que a primeira gota de chuva caiu. Com a chuva, também caiu vertiginosamente a distância entre os dois. Nas últimas voltas, além da ultrapassagem, o que se viu foi um show de precisão e de confiança. E foi encerrado ali. Não preciso dizer mais nada, pois a história foi escrita.

E afinal de contas, o que nos custa acreditar e lutar até o fim? Nada demais, apenas a expansão de nossos limites e a sensação de trabalho cumprido.

Força, Felipe, basta acreditar!