terça-feira, 18 de novembro de 2008

Reuniões: o antepasto da falta do que fazer

Outro dia recebi um e-mail meio batido. Não que seja batido, mas é daqueles e-mails sazonais, que vêm em avalanches. Todo mundo recebe mais ou menos na mesma época. Não se sabe nem a autoria, pois o escritor incógnito faz questão de deixar tudo às margens da impessoalidade. O texto vira até assunto com pessoas de fora de seu núcleo social diário: “Ah, você recebeu aquele e-mail? É, aquele com as fotos de não sei o quê! E aquele outro do escritor fulano de tal, sobre a vida em empresas?!”.

Passada a “epidemia” eletrônica, o texto digital hiberna em berço esplêndido em sua caixa de entrada, como se estivesse aguardando por nova tendência ou oportunidade de re-circular - requentado, é fato - mas com aquele ar contemporâneo.

Enfim, na retomada de um desses textos, contendo filosofia cotidiana, notei que um dos itens me chamou atenção. Ele dizia “Se você tivesse que identificar, em uma palavra, a razão pela qual a raça humana ainda não atingiu (e nunca atingirá) todo o seu potencial, essa palavra seria 'reuniões'”.
Quando terminei de ler, a primeira reação foi dar risada, é claro. Sempre me divertido com a capacidade que algumas pessoas têm de captar essas situações cotidianas e notar como elas são banais no balanço geral da situação.

Contudo, não vou negar que analisando com mais cautela algum tempo depois, percebi que há um fundo psicológico fortíssimo por trás dessa interpretação. Além do fato de ter participado de mais uma reunião e ver com meus próprios olhos tal ilustração encarnada.

Penso que reunião faz jus ao nome que leva: é uma reunião, sim, de carências e consensos distorcidos, na maioria das vezes lotados de subjetivismos que atordoam a razão e a tomada de decisões. Que fique claro: quem, em absoluta consciência, conseguiu resolver um assunto inteiro com apenas uma reunião? Outro ponto, quem é capaz de realmente fazer o que foi proposto na ata?

Não vou desandar unicamente o assunto para questões de trabalho. Digo isso porque mais da metade das reuniões das quais participei este ano foram com amigos, resolvendo problemas de nossas empreitadas musicais. E notei que há esse tom disléxico em quase todo o percurso da conversa. Não há foco direto. Não se vai diretamente ao escopo e “mata-se” o assunto. Dado momento, o que temos é uma troca de assuntos carregados de “Eu acho”, “Eu não penso assim”, “Eu espero”. Onde está o coletivo, o organismo do ideal da reunião? Isso quando não se foge do assunto central por completo – aí o que temos é uma discussão infrutífera de amenidades das mais diversas.

Se o processo deve envolver o coletivo, onde fica a idéia e conclusão global? Pouco se houve o outro. Atropelamos idéias, contrapontos e tudo o mais que possa desequilibrar o interesse central. Mas oras, se há um interesse central pré-definido e praticamente imutável, não é reunião. É Comunicado, Aviso, Advertência. Não reunião.

A palavra já sofreu deformações das mais variadas com o passar do tempo. No geral, nossas palavras e atos já não correspondem mais à realidade. Não há coerência entre discurso e a ação. O homem moderno é assim, cheio de aspirações reprimidas.

Ao final das conversações, a conclusão de que não se aprendeu nada e não se chegou a lugar algum bate à sua porta. O que, então, fazer?

Pausa para o café...

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