segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Arte do encontro




(...)
A face muda, é como se tudo tomasse outra dimensão. Lábios... A vontade. Começa a reparar nos olhos - nossa, nunca havia notado que eram verdes/azuis/castanhos tão intensos!

A voz muda, torna-se tom natural para os ouvidos.

A pessoa nasce para você, toma parte da sua realidade, se apossa dos seus pensamentos, cabe agora em seus projetos, vive o seu agora.

Como pode ser tudo tão rápido, tão intenso? É uma magia dessas que não tem explicação. E ninguém quer ter mesmo.

Deixa viver! Como alguém sábio já disse antes, "viver é a arte do encontro"!

* Imagem: Lynn-Rushton-Trust-Lovers-Series

domingo, 26 de dezembro de 2010

Quanto vale sua essência?

Certo eu estava quando imaginei que um dia só restaria a mim mesmo das memórias do que vivi.
Tenho dessas coisas de vez em quando. Fazer balanços, observar e questionar o que teria sobrado dos velhos tempos, dos velhos amigos.
A verdade é que a maioria se corrompeu, sem lutar muito. É claro que seria estúpido da minha parte dizer que permaneço intacto desde que me conheço por gente. Nós mudamos: de ideias, de companhias, de paradigmas, de crises. De opinião, nem se fala!

Mas existe um "quê", um elemento interior que clama forte, que é aquela chama acesa no fim do corredor. É o que nos distingue dos demais, é a fronteira final da auto-corrupção e dos desanganos. É esse elemento que observo dentro de mim e ainda o vejo intacto. E como é difícil mantê-lo!

Questão de dois anos atrás, ou nem isso, num aniversario de uma grande amiga, ela virou e me disse "Nunca deixe de ser assim do jeito que você é!". Meio que uma intimação. A partir desse dia, notei que o trabalho que se tem para manter essa essência viva vale cada minuto, cada esforço e cada preocupação. Eu vendo muito caro as minhas convicções e pago um preço alto por essa resistência. Mas tenho motivos de sobra pra sorrir.

Hoje, numa conversa, notei mais um dos velhos amigos entregando tudo o que era em troca de uma máscara suja, enfadonha e tão vulgar quanto qualquer um que esbarre ao seu lado, sem qualquer distinção de ser. E se recusa a enxergar. Jamais admitiria. É triste ver, saber que há alguns anos tal pessoa defendia ao seu lado os mesmo ideais.

Pior que isso é vê-lo se transformar naquilo que sempre criticou e jurou jamais ser em sua existência.

É o preço que se paga. Talvez a ignorância seja mesmo uma benção. Ou não.

Quem vai saber?

terça-feira, 21 de dezembro de 2010

Fim... De quem?

Houve um tempo, quando eu era jovem - que apesar de tudo, pro universo, nem faz tanto tempo assim - onde o Final de Ano, as festas e as comemorações era tudo o que eu mais esperava. Esperava por fora, porque o tempo era de receber afagos materiais. Esperava também por dentro, pois o o momento e a própria existência nesse período me fazia sentir diferente, melhor, conectado a uma realidade muito mais indulgente.

Parece saudosista colocar tudo no passado e muito pior do que isso é se colocar a reclamar. Na verdade, não farei isso. Apenas quero refletir o "porquê".

Acredito que quando se cresce, deixa-se de lado uma porção de coisas boas, como um humor mais saudável e receptivo para ceder lugar à massificacão. Massificar é banalizar a essência, talvez até nem dar conhecimento a ela.

E isso me emputece, sim. Todo mundo perdeu isso. O que mais se ouve é "nem parece fim de ano!" ou "não estou em clima de Natal!". É claro que não está. Quando o mundo à sua volta não está e você se entrega a essa atmosfera, é o que se vai ter.

Eu me entreguei. Já nem me lembro quando, mas faz tempo.

Restabelecer o que não se tem.
Recriar o que não se cria.
Valorizar o que não é palpável.

Taí uma nova jogada. Um desafio.

Quem sabe ainda algum dia consiga ver os pisca-piscas de hoje com minha alma de anteontem...

domingo, 19 de dezembro de 2010

Celebrar

Celebrar é um ato que faz tão bem, mas que por vezes perde um pouco de espaço no meu cotidiano. Quer dizer, celebrar com efeito, com a razão que cerca, um motivo para reunir, rir, sentir.
Poucas vezes, confesso, fiz o mundo girar à minha volta. Tem gente que faz de propósito, por ego. Eu fiz sem querer. Que bom fazer assim, sem planos e nem enganos!

As pessoas chegavam, me viam, sorriam e eu tomava parte de uma coisa muito maior do que eu. Uma comunhão única, uma sintonia desmedida dessas que não se tem explicação. Eu não tenho, nenhuma!

Enquanto tocava, queria estar lá com eles pra ver minha cara perplexa, um moleque se divertindo com a própria travessura. Calculada, desejada, mas rebelde.

E foi ontem que eu percebi: como é bom ter com quem compartilhar tanta energia!

Que 2011 torne essa realidade cada vez mais possível!

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

Porque mentir é Zen, meu bem

Às vezes, parece que mentir é catarse. Catarse de alguma culpa que tenho escondida dentro de mim e a vontade de externalizar se corrompe.
Não é pra se sentir mal, mas quantas vezes não nos sentimos tendenciosos a contar aquela inverdade que nos cabe tanto como verdade?

E nós criamos, sintonizamos uma realidade paralela e outonal de inofensiva, mas que a vontade interna nos morde pra que fosse verdade. Os juízes internos nos chacoalham, nos dão puxões de orelhas e sermões infindos de tanta austeridade que o remorso é tão implacável como a certeza do amanhã.

E na verdade, o que há de errado? As mentiras não são todas iguais. Há aquelas que encerram em si negativismo e ar impostor. Mas, não consigo em consciência condenar a mentira-sonho, mentira idealizada que nos põe numa atmosfera de maior justiça interna.

O sonho muitas vezes não passa de uma mentira não executada, por vezes medroso e tinhoso.

Há de se parar de sonhar, criar, recriar o reinvento?

Quem é que pode saber, quem é que pode diferenciar? Sonhar mentiras é bom, acaricia nossas mentes fustigadas de verdades pouco palpáveis, povoada de concretismos.

Mentir faz bem pros ouvidos sem se saber de quem.

Mentir é Zen, meu bem.

domingo, 5 de dezembro de 2010

Em algum lugar do teu corpo/Quelque part dans ton corps



Sinto o fulgor de suas pernas num repente,
Enquanto nos entrelaços de volúpia nos entregamos.
O amanhã é apenas um disparate ínfimo do agora,
No momento insano em que seus lábios cínicos  me derretem.
Não há tempo, não há mais lógica ao teu lado.
O mundo se entregou e se perdeu em seus quadris,
Na dança do teu jogo quase personificado do pecado.
Porque eu ouso,
Porque eu me entrego,
Porque eu me perco,
Em algum lugar do teu corpo...

Quelque part dans ton corps
Je sens la splendeur de tes jambes soudainement,
Lorsque nous nous livrons dans les entrelacements  de volupté.
Demain est juste un infime disparate du present,
Au moment insensé où tes lèvres cyniques me fondent.
Il n’y a pas de temps, il n’y a plus de logique à tes côtés.
Le monde s’est abandonné et  s’est perdu dans tes hanches,
Dans la dance de ton jeu presque personnifié du péché.
Car j’ose,
Car je me livre,
Car je me perds,
Quelque part dans ton corps...