terça-feira, 4 de novembro de 2008

Somos o que podemos ser ou o que queremos ser?

Mudança. Na maioria das vezes, está associada a uma dessas guinadas radicais que se dá, quase sempre sem propósito. As pessoas pensam assim, não tem jeito.

Pensando melhor, o mais sério é o que impulsiona a mudança. Pode ser um desejo sincero mesmo de alcançar outras realidades da vida ou simplesmente de sair da rotina. Como uma reforma de casa, mas daquelas bem superficiais mesmo. Pinta-se a parede rapidamente, troca-se o forro do sofá, tudo numa ânsia incontrolável de sabe-se lá o quê. Depois, com o depositar das areias do tempo, vem à tona o que deveria ter sido corrigido anteriormente: a parede tinha infiltrações e estava embolorada. A estrutura do sofá continha cupim e não demorou muito a se desfazer por completo. Será que foi reforma mesmo, uma verdadeira reestruturação dos alicerces, ou apenas um engano raciocinado?

Muito se fala sobre isso, principalmente no fim do ano “Ah, a partir do ano que vem vou mudar totalmente! Vou passar a fazer isso, aquilo, aquilo outro...”. Como se o simples passar de um dia pro outro - que é na realidade o que ocorre do dia 31 de dezembro para o primeiro dia de janeiro - fosse capaz de outorgar uma série de mudanças conscienciais num passe de mágica. Atribuíram a essa data o dom da mudança instaurada. Basta vestir-se de branco, pular sete ondas, comer um pouco disso, um pouco daquilo, lançar oferendas em alto-mar e pronto: sem mover um dedo e muito menos se auto-questionar, está tudo resolvido! Você é um novo homem, uma nova mulher! Basta pisar para fora de casa no primeiro dia do ano vindouro que todos os males de sua vida terão desaparecido.

Falta muita consciência e é claro, muito trabalho pessoal. E a cada ano, inventam coisas novas, simpatias mais modernas, evocações mais poderosas, atribuições mais ousadas. Tem-se criatividade para tudo isso. Mas, coragem para notar os próprios defeitos e combatê-los onde se dói mais, não! De jeito nenhum! Imagine, logo eu, que sou bem resolvido?

O ser humano gosta de se entorpecer e enganar a realidade: embebeda-se, droga-se, faz de tudo para sair do concreto que tanto o machuca. Para que resolver se você pode esquecer que tudo isso existe? E da melhor maneira possível, dando risada, “confraternizando”?

Isso não é mudança. E apenas mais um atalho que encontramos para nos tornarmos mais intolerantes, infelizes e consumistas de uma realidade que não é nossa.

Será que aquilo que você quer ser é reflexo da sua verdade ou é aquilo que esperam que você seja?

Enquanto penso, acho que vou ao Shopping ver se encontro uma camisa e uma cueca branca para celebrar um 2009 cheio de...roupas brancas...

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