sábado, 1 de novembro de 2008

Acreditar



No que acreditar?

É claro que têm momentos na vida que é difícil continuar acreditando até o fim em todos os nossos atos e investimentos pessoais.

Num microcosmos próximo daqui, Felipe Massa chega ao final do Campeonato de F1 deste ano com apenas um tiro para dar e, com este tiro, tem que tirar Hamilton de uma zona de pontuação palpável (a partir do sexto lugar é uma boa idéia) e se garantir na ponta. Só assim, com efeito, pode tirar a diferença de 7 pontos que o separa do inglês e garantir ele não possa alcança-lo mais.

Considerando a falta de mobilidade dos últimos campeonatos - largou em primeiro com carro bom e sem erros de equipe, chega-se em primeiro - e a própria situação do Grid que se definiu agora pouco, Massa chegaria em primeiro e Hamilton, o quarto. Não serve. Mesmo sem pódio, o novo prodígio planejado da F1 sagra-se campeão, corrigindo toda a afobação e destempero que o tiraram do glória quase certa em 2007.

Mas, talvez isso tudo nem seja tão importante, pois a magia está na situação: o que move o ser humano numa hora dessas?

A matemática é cruel, porque não importa o que aconteça, ela sempre será exata - para o bem da humanidade e dos aflitos professores, que a todo instante tentam convencer os mais incrédulos alunos.
E então, não poderíamos acreditar? Na verdade eu digo que acreditar é tudo. Acreditar e investir. Sem acreditar, é certo que muitas realidades que temos hoje como triviais seriam meros prospectos futurísticos sem a persistência de seus idealizadores: a ciência como um todo, todos os avanços tecnológicos e mesmos os ideais, os direitos, a liberdade de expressão...

Mas não acreditar de uma maneira cega e figurativa, como quem já separa o dinheiro da aposta perdida. Acreditar com a luta agarrada, compenetrada. É isso que os homens pouco fazem e por isso logo desistem dos intentos.

Acreditamos pouco, insistimos de menos e nos reerguemos menos ainda. Criamos obstáculos intangíveis, possibilidades remotas e credibilidade insípida no futuro. O problema não é errar, é se condenar impiedosamente depois, como se mais nada fosse possível. Como se o amanhã fosse uma consequência infértil de possibilidades, que só é possível colher o amargor de uma derrota.

Por sorte, não foi assim em 88. Senna tinha tudo para ganhar o título já no Japão. Na hora de largar, o motor apagou. Coisa que hoje em dia é motivo pra rir, com tudo sendo automático até demais. Foi parar nas últimas posições. Caçou um por um de seus adversários; o trabalho da equipe nos boxes foi espectacular. Ultrapassar Prost era uma utopia, até que a primeira gota de chuva caiu. Com a chuva, também caiu vertiginosamente a distância entre os dois. Nas últimas voltas, além da ultrapassagem, o que se viu foi um show de precisão e de confiança. E foi encerrado ali. Não preciso dizer mais nada, pois a história foi escrita.

E afinal de contas, o que nos custa acreditar e lutar até o fim? Nada demais, apenas a expansão de nossos limites e a sensação de trabalho cumprido.

Força, Felipe, basta acreditar!

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