terça-feira, 11 de novembro de 2008

Reflexos Condicionados

Outro dia, conversava com um bom amigo. Acredito que realizamos um devaneio de idéias sortidas. Basicamente, não impusemos critério algum nos temas que se sucediam. O intuito era fazer as idéias fluírem com imensa naturalidade. E é claro, o que seguiu não teve desfecho com menos de 3 horas de conversa, envolvendo tudo aquilo que se possa imaginar.

Num dos tópicos, colocamos em questão nossos reflexos condicionados, nossas reações frente às pessoas e as situações do nosso cotidiano.

- Eu acho que o serviço de telemarketing nos moldes atuais deveria ser banido! Quanta automatização e alienação! – comentou Josa.

Tive que concordar com certo ar de tristeza. É difícil imaginar que haja “treinamentos” mecanizados para que pessoas saibam – ou não – como lidar com pessoas. Chega a ser até uma auto-paródia, com alicerces meio frouxos na demagogia de que alguém possa ter encontrado o método mais adequado de se lidar com todo e qualquer tipo de pessoa de uma forma padronizada. Uma receita mágica, para conversar e relacionar-se com qualquer um, inscrita numa manual de instruções. Desde a pessoa mais agressiva, que te espanca verbalmente do outro lado da linha, até o ser mais insosso, que diz “não” pra tudo como uma múmia paralítica, mas não vê a hora de desligar o telefone e sair correndo. Mais duro ainda é saber que reagimos assim, oscilando entre os dois sofríveis extremos.

Indo além, Josa ainda rebateu:

-
Diga-me, o que será que aconteceria se eu dissesse, “Por favor, espere um momento antes de prosseguir! Bom dia! Como é seu nome? Está tudo bem com você”, e começasse a “conversar de verdade” como uma pessoa dessas?!

Respondi, após pensar no menos óbvio:

- Creio que a pessoa se despedaçaria ali mesmo. Não teria o que dizer, afinal, esse tipo de reação não está relacionada nas de Cartilhas Mágicas de conduta do telemarketing.

Considerei a idéia do meu amigo simplesmente genial. É meio paradoxal imaginar que você desarme um(a) atendente, dispa-o(a) por completo, simplesmente conversando normalmente, como quem bate um papo informal, dentro das rédeas da educação.

Penso que esses profissionais, infelizmente, passam por diversos apuros ligando para pessoas mal-educadas, agressivas, passivas e agressivas/passivas, tendo todo tipo de resposta que amargura o ser; e então, quando alguém se dispõe a conversar como gente, sendo assertivo, simplesmente não ha reação. Não há respostas armadas contra quem dialoga, quem explica, quem QUER ouvir.

Experimentemos um “bom dia!”, uma pergunta afável, uma recusa educada. Acho que chorariam na linha ou entrariam em estado de choque profundo.
Será que é tão difícil mesmo fazer isso? Ou será que estamos alastrando essa insatisfação pessoal pela qual vivemos a todos que estão a nossa volta? O que seria do nosso mundo sem esses serviços de informação?

Comunicação: um dos grandes adventos da humanidade, que nos diferencia por completo dos demais animais, utilizada para nos encarcerar nas grades desse imenso zoológico urbano onde vivemos.

3 comentários:

Josa disse...

Estamos conectados, meu amigo!

Vamos firmes na busca a favor da humanidade em planeta diário tão estéril...

abs grande!

http://graodotempo.blogspot.com/

Raphael Lima disse...

"...não ha reação. Não há respostas armadas contra quem dialoga, quem explica, quem QUER ouvir." Isso é o barato rico da vida mesmo brow! Precisamos ouvir essas palavras no silêncio da internet ou na falação dos call center´s onde a galera se acotovela em intermináveis telefonemas. Eu já trabalhei num trampo assim. E posso dizer que a alma de ninguém lá conseguiu se curvar diante desse diabo do mecanicismo proposto pelo Mercado atual.
O que há nessas empresas é uma contradição altamente complexa e uma cede por ouvir um bom papo ou arrumar outro trabalho, além do ódio criado por tanto problema sem solução...
Mas é isso e não é!
Queremos evoluir? Estamos fudidos! No melhor sentido da palavra foder!
Que o DEUS nos Guie!

Victor Jabbour disse...

Sim, meu amigos! Evoluir, infelizmente, é ir de contramão a essa massa doida de gente que nem sabe o que está fazendo. Todos em busca de um dia que não chegará!
Estamos fudidos? Acho que sim, mas nada como sermos os primeiros a desbravar a essa imensa loucura e passar a enxergar de modo diferente!
Vamos juntos!

Grande abrax a vocês!